A Menina da Pipoca

Quem for ao Cemitério de São Salvador, em Mogi das Cruzes, no dia de Finados, verá quantas mães levam seus filhinhos para visitar e levar flores para a "menina da pipoca", ali sepultada em 1879. Nesse ano a criança morreu.
Seus pais mandaram erguer um rico túmulo de mármore, sobre o qual está a linda escultura de uma criancinha deitada e, também de mármore, em suas mãos algumas flores.
O fato é que o povo não viu flores nas mãozinhas da escultura, pois elas ficaram parecendo pipocas. Daí nasceu a lenda que desde então repete-se ano após ano e que em todos os Finados leva ao cemitério de Mogi um grande cortejo de mães, para rezar pelos seus filhos junto ao pequenino túmulo.
Contam as mães que a criança morreu por castigo!
Passava a procissão de São Benedito. Mas como os pais não queriam que a família homenageasse o santo preto, fecharam-se as janelas da casa. E para distrair a pequenina, que queria ver a procissão, deram-lhe pipoca. Mas foi só a criança botar uma na boca, engasgou-se e morreu!
Nos dias de Finados há verdadeira romaria ao túmulo da criancinha.
As mães olham as flores da escultura e, inexplicavelmente, veem as mãozinhas da menina cheiasde pipoca...

*Extraído do livro “Folclore de Mogi das Cruzes” de Isaac Grinberg, 1983.
*Ilustração @natalia_lemess

A causa morte foi engasgo por liquido comum na época, não por pipoca.
A lenda da “Menina da Pipoca” não ocorreu, o único fato verdadeiro está na morte da pequena criança ocorrido no dia 20 de junho de 1879.
Esta lenda nasceu em um momento conturbado da história brasileira. O fim da escravidão iniciou grandes discussões a respeito da liberdade da população negra. Supomos que o fato que podemos apurar sobre a criação desta lenda, está pautado em São Benedito, um santo negro que puniu uma família que não o cultuou. Na mentalidade da população mogiana, criar tal fato fortaleceria a cultura negra na cidade, ao mesmo tempo demonstra a superioridade de um santo negro sobre uma família aristocrata com forte poder político e a favor da escravidão.